Nos últimos anos, vários bancos digitais incorporaram serviços de compra e venda e custódia de criptomoedas dentro de seus aplicativos.

Nubank (no Brasil e México), Revolut (com presença na Europa e planos de expansão na América Latina), Inter (no Brasil) e Brubank (na Argentina) são exemplos de entidades que prometem facilitar o acesso aos ativos digitais para milhões de clientes.

Mas, o que isso implica na prática? Isso representa uma mudança significativa na adoção de criptomoedas na região, ou se reduz a uma manobra publicitária com um alcance funcional limitado?

Neste artigo, revisamos os recentes movimentos desses bancos digitais “puros” em torno da cripto, comparando seus serviços com os das exchanges especializadas. Também refletimos sobre se eles podem realmente fomentar um maior uso de criptomoedas entre o público geral na América Latina.

O que esses bancos 100% digitais oferecem?

A maioria dos bancos digitais que se juntam ao ecossistema cripto começa com funções simples: compra e venda de BTC e ETH através do mesmo aplicativo, com uma interface simples que se conecta à conta bancária. Para o usuário, é muito prático não ter que abrir contas em plataformas externas.

Por exemplo, Nubank permite adquirir Bitcoin e Ethereum com valores mínimos muito baixos; Revolut, bastante popular na Europa e chegando a regiões latino-americanas, oferece um catálogo mais amplo de criptos e tem dado sinais de expandir suas opções; Brubank na Argentina anunciou intenções de entrar no setor cripto, embora suas características variem de acordo com as regulamentações locais. Inter, também no Brasil, estudou a integração de serviços de compra de criptomoedas e armazenamento básico.

Bancos digitais vs. exchanges: quão diferente é a experiência?

Embora operar de um banco digital possa ser mais conveniente — aproveitando a credibilidade e simplicidade do seu aplicativo —, não podemos esquecer as diferenças em relação às exchanges:

  • Variedade limitada de moedas: Geralmente, os bancos oferecem apenas BTC e ETH, talvez alguma stablecoin.

  • Poucas funções avançadas: Difícilmente você encontra staking, farming, futuros ou troca entre diferentes pares.

  • Sem envios para carteiras externas: Muitos bancos só permitem comprar e manter a cripto dentro de seu sistema, sem te dar a opção de transferir para sua wallet pessoal.

Em contrapartida, as exchanges especializadas (como Binance, OKX, etc.) permitem operar dezenas ou centenas de tokens, realizar análises técnicas com ferramentas avançadas e acessar produtos DeFi complexos. Para investidores experientes, essa diferença é fundamental. Além disso, conservar as chaves privadas — ou levar os ativos para sua própria wallet — geralmente não é uma opção na banca digital.

Regulamentação e segurança: a principal vantagem dos neobancos

Um dos pontos fortes dos bancos digitais puros é que estão sujeitos a uma regulamentação clara, supervisionados por autoridades como o Banco Central no Brasil ou o BCRA na Argentina, o que traz confiança aos iniciantes. Além disso, a integração de cripto dentro de sua estrutura bancária padrão facilita o cumprimento fiscal e a rastreabilidade, aspectos que atraem usuários que buscam conforto e transparência.

Ao mesmo tempo, essa regulamentação pode representar barreiras para a inovação: comissões mais altas, operações restritas e uma menor conexão com o mundo descentralizado. Se você é um entusiasta da filosofia cripto que valoriza a soberania sobre as chaves privadas, pode ser que os bancos não te ofereçam todas as liberdades que você esperaria.

Experiência do usuário: ponto forte dos bancos digitais “puros”

A UX nos bancos digitais tornou-se um padrão de simplicidade e, no âmbito das criptomoedas, replicam essa fórmula:

  • Integração com seu saldo: Você não precisa mover dinheiro para outro lugar, pois a compra/venda é descontada de sua conta principal.

  • Passos mínimos: Não é mais necessário fazer um KYC extra em uma plataforma cripto; aproveita-se o KYC bancário existente.

  • Segurança percebida: O usuário novato confia mais em seu neobanco do que em uma exchange desconhecida, especialmente em áreas da América Latina onde fraudes cripto têm sido notícia.

Esse “fácil acesso” pode potencializar a adoção de cripto em um público mais amplo, que busca uma pequena exposição ao mercado sem se complicar com trading avançado ou troca de endereços em wallets externas.

Marketing ou tendência sólida?

Ainda é cedo para afirmar se essa integração cripto dos bancos digitais é uma jogada duradoura ou um gesto destinado a aproveitar o “boom” cripto. Muitas pessoas acreditam que as entidades financeiras estão testando as águas para avaliar a resposta dos usuários, assim como o panorama regulatório, antes de ampliar sua oferta de forma mais agressiva.

No entanto, com a normatividade cripto avançando em países como Brasil, México, Colômbia, Argentina e Chile, os bancos quererão se posicionar se as criptomoedas consolidarem seu papel na próxima geração de finanças. O futuro dos serviços bancários poderia incluir a tokenização de ativos, contratos inteligentes, stablecoins e a fusão de DeFi com finanças tradicionais.

Qual é o impacto na adoção geral de cripto?

O mais importante talvez não sejam as funções desses bancos em si, mas a educação financeira que promovem e a transformação na percepção que as pessoas têm das criptomoedas. Ao oferecer Bitcoin ou Ethereum diretamente em aplicativos que milhões de pessoas já usam, elimina-se parte do medo e quebra-se a barreira da complexidade tecnológica.

Embora a experiência seja limitada, serve como porta de entrada. E muitos desses usuários — após algum tempo — poderiam se lançar a explorar alternativas mais avançadas, como as exchanges com maior oferta e liberdade operacional.

Conclusão: O seu neobanco já vende criptomoedas?

A incursão de bancos digitais no universo cripto representa um grande passo em direção à massificação dos ativos digitais. Embora seus serviços ainda sejam restritos, ajudam a normalizar o uso de criptomoedas no dia a dia da população.

Estamos diante de simples manobras de marketing ou frente a uma tendência real? O tempo dirá. Mas um fato é claro: quanto mais facilidades são oferecidas para investir em cripto, mais interesse surgirá no grande público. Nesse cenário, bancos e exchanges poderiam adotar papéis complementares, em vez de rivais.

Você já comprou cripto de um banco digital no seu país?

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