A tokenização de ativos é um dos temas mais discutidos quando se fala na convergência entre o mercado tradicional e o universo cripto. E entre os ativos que mais chamam a atenção nesse contexto estão justamente as ações de empresas listadas em bolsas.
A proposta é simples, mas poderosa: transformar papéis negociados na B3, Nasdaq ou NYSE em tokens digitais que possam ser comprados, vendidos e custodiados de forma global, transparente e descentralizada.
Mas será que essa tendência é só mais um experimento passageiro ou pode, de fato, mudar a forma como negociamos participações societárias? E como está a adesão por parte de grandes fundos e instituições?
Neste artigo, vamos analisar as oportunidades e os desafios da tokenização de ações em 2025.
O que é tokenização de ações?
Tokenizar uma ação significa representá-la digitalmente em uma blockchain, por meio de um token que equivale, total ou parcialmente, ao papel original.
Por exemplo: uma ação da Apple pode ser fracionada em tokens digitais lastreados nela, permitindo que investidores tenham exposição à variação de preço e recebam dividendos proporcionalmente, mesmo sem negociar na bolsa tradicional.
Isso abre possibilidades para negociação fracionada (comprar pedaços pequenos de ações caras), acesso internacional, operações 24/7 e liquidação instantânea via blockchain. Em teoria, tudo isso torna o mercado mais acessível, eficiente e inclusivo.
O que torna a tokenização tão atrativa?
A tokenização de ativos não é uma ideia nova, mas só recentemente ganhou força com o amadurecimento de plataformas como Polygon, Avalanche e Ethereum, que oferecem infraestrutura para emissão e negociação desses tokens. Além dessas plataformas, empresas especializadas têm desenvolvido soluções para conformidade regulatória, liquidez secundária e integração com bolsas e corretoras tradicionais.
Outro ponto importante é a possibilidade de democratização. Com a tokenização, um investidor que vive fora dos grandes centros financeiros pode acessar ativos antes restritos a um público limitado e com alto custo de entrada.
Em países com sistemas bancários limitados ou baixa inclusão financeira, esse modelo representa um divisor de águas e, quando falamos de países com um nível alto de bancarização - como o Brasil, que recentemente alcançou 200 milhões de pessoas com contas em bancos -, as possibilidades de integração com o mercado tradicional ficam ainda mais evidentes.
Plataformas que estão tornando isso possível
Alguns nomes já estão se destacando na vanguarda da tokenização de ações. A Synthetix, por exemplo, permite criar "sintéticos" de ações e outros ativos via contratos inteligentes. A Mirror Protocol também já ofereceu versões tokenizadas de papéis como TSLA e AAPL.
Além disso, bolsas como a Nasdaq e a SIX (da Suíça) estão testando plataformas de tokenização com suporte regulatório completo (o que mostra como essa integração com os mercados tradicionais já está em pleno desenvolvimento).
Outro destaque é o uso de stablecoins e redes como Stellar e XDC Network para permitir que esses tokens sejam negociados com custos menores e maior escalabilidade. Ou seja, não se trata mais de uma ideia teórica, mas de algo que já começa a ser executado em grande escala.
Desafios: liquidez, regulação e interesse institucional
Apesar do potencial, há desafios consideráveis. Um dos principais é a liquidez. Mesmo que o token represente uma ação listada, ele não está automaticamente integrado à liquidez da bolsa correspondente. Isso pode gerar desvios de preço e dificuldades para encontrar contraparte em negociações.
Outro entrave está na regulação. Em muitos países, não há diretrizes claras sobre como os tokens de ações devem ser classificados: são valores mobiliários? Ativos digitais? É preciso registro na CVM ou SEC? Essa indefinição trava projetos e afasta players institucionais.
Além disso, o interesse de fundos tradicionais ainda é tímido. Mesmo gestoras que operam com cripto ativos preferem manter seus recursos em instrumentos com regulação clara e alta liquidez. O que pode mudar isso é justamente o avanço regulatório e a integração de grandes players ao ecossistema.
Concorrência com bolsas tradicionais: é possível?
No curto prazo, a tokenização não deve substituir bolsas tradicionais. Mas é provável que complemente os modelos existentes, criando mercados paralelos com liquidação instantânea, operação global e negociação 24/7.
Esse ecossistema pode beneficiar principalmente investidores que querem acesso rápido e flexível a papéis de empresas globais, sem necessariamente abrir conta em cada mercado. Também pode ser uma solução para empresas menores que buscam captação de recursos fora dos canais convencionais.
Na prática, a tokenização pode inaugurar uma nova era de interoperabilidade entre mercados. Imagine poder usar um token lastreado em ações da Tesla como colateral em um protocolo DeFi, ou trocá-lo por stablecoins em tempo real. Essa integração é um dos maiores potenciais da tokenização de ações.
Seria a tokenização de ações um caminho sem volta?
A tokenização de ações ainda enfrenta barreiras técnicas, legais e institucionais, mas já demonstra seu valor como ponte entre o mercado tradicional e o digital. Com regulações mais claras, adesão de grandes plataformas e soluções de liquidez eficientes, ela pode se tornar uma alternativa séria de investimento para um público global.
No fim das contas, tokenização de ações poderia transformar o mundo em uma enorme bolsa de valores sem barreiras, no máximo com representações locais de auxílio e execução sendo as bolsas locais. Esse cenário mais amplo pode parecer muito complicado, mas não podemos descartar que ele venha a ocorrer no futuro.
Para o investidor que acompanha o mercado cripto, esse é um movimento que vale ser observado de perto. A integração de ativos reais em redes blockchain é uma das tendências mais fortes de 2025, e a tokenização de ações está no centro dessa revolução.
O futuro pode não ser apenas digital, mas tokenizado. Já pensou nisso?
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