A adoção da estratégia de 'Saylorization' surgiu como uma das tendências financeiras definidoras em 2025. Empresas de capital aberto, desde a Metaplanet do Japão até o Blockchain Group da Europa, estão reestruturando suas estruturas de capital para priorizar a acumulação de Bitcoin (BTC).
Joe Burnett, Diretor de Estratégia de Bitcoin na Semler Scientific e ex-Diretor de Pesquisa de Mercado na Unchained, uma empresa de serviços financeiros de Bitcoin, observou que essas empresas não estão apenas seguindo a liderança dos EUA, mas, em alguns casos, superando-a. Em uma entrevista exclusiva à BeInCrypto, Burnett se aprofundou no que está levando as empresas em direção ao ouro digital e como o Bitcoin está remodelando as reservas corporativas.
Bitcoin: O Ativo para Balanços Corporativos Resilientes
A BeInCrypto relatou recentemente que pelo menos 61 empresas adotaram uma estratégia de tesouraria em Bitcoin, e mais estão se juntando à lista. Seja a Méliuz do Brasil ou a ANAP Holdings do Japão, todos agora estão adicionando Bitcoin a seus balanços.
Burnett argumenta que isso não é apenas uma tendência passageira, mas o surgimento do Bitcoin como o ativo de tesouraria corporativa da próxima década.
“Olhando além do tamanho das captações, o que importa aqui é a intenção: empresas em todo o mundo estão otimizando sua infraestrutura financeira em torno do Bitcoin. Não estamos apenas vendo hedges de balanço, mas motores de tesouraria inteiros construídos sobre princípios de dinheiro sólido,” ele disse.
Então, o que está alimentando essa mudança global? Ele explicou que o Bitcoin aborda lacunas críticas na infraestrutura financeira. Em regiões onde a inflação corrói as reservas de caixa, o acesso a dólares é restrito ou os pagamentos transfronteiriços são lentos e caros, o Bitcoin oferece uma alternativa convincente.
Mesmo em mercados estáveis, as motivações diferem, mas não são menos estratégicas. As empresas estão alocando Bitcoin como um ativo de reserva de longo prazo, atraídas por suas propriedades monetárias únicas: uma oferta fixa, neutralidade global e emissão transparente.
“Em ambos os contextos, o Bitcoin não está substituindo o sistema, mas se tornando uma proteção importante para empresas que pensam além dos ciclos de mercado de curto prazo,” Burnett disse à BeInCrypto.
O executivo enfatizou que, embora manter Bitcoin possa proteger o capital, integrá-lo à estrutura de capital o transforma em um ‘ativo de trabalho’. A negociabilidade global do Bitcoin, a liquidação instantânea e a imunidade aos controles de capital permitem que as empresas acessem crédito, melhorem a liquidez e reduzam a dependência de sistemas financeiros tradicionais.
Isso é particularmente valioso em mercados onde o crédito é escasso ou a infraestrutura está subdesenvolvida.
“Para empresas com visão de futuro, a adoção do Bitcoin não se trata apenas de preservar valor. Trata-se de construir um balanço patrimonial mais resiliente e flexível que possa operar tanto em sistemas financeiros legados quanto emergentes,” observou.
O Futuro das Reservas de Bitcoin nas Estruturas de Capital Corporativo
Embora as empresas já estejam usando o Bitcoin como um ativo de reserva e colateral de empréstimos, Burnett prevê que o ativo se tornará um elemento fundamental das estruturas de capital corporativo na próxima década.
“Provavelmente veremos mais empresas emitindo dívidas para adquirir Bitcoin ou usá-lo como colateral em estratégias de crédito e liquidez, um manual pioneiro da MicroStrategy que agora está sendo adaptado tanto nos mercados públicos quanto privados,” afirmou o executivo.
Essa abordagem está ganhando força à medida que as empresas repensam como equilibram capital próprio, dívida e reservas de caixa. De acordo com Burnett, à medida que o papel do Bitcoin como instrumento financeiro cresce, ele ajudará as empresas a criar novos métodos para levantar capital e gerenciar suas operações financeiras.
Assim, as empresas poderiam começar a operar fora do sistema bancário tradicional, usando estratégias baseadas em Bitcoin para gestão de tesouraria e formação de capital.
Mas o que isso significa para as instituições financeiras tradicionais? Com a crescente demanda por BTC, as instituições financeiras tradicionais enfrentam um momento decisivo.
“O Bitcoin desafia algumas das suposições fundamentais sobre as quais as instituições financeiras tradicionais são construídas. É um ativo de portador com liquidação final, não algo que você pode congelar, reverter ou intermediar,” observou Burnett.
No entanto, ele acrescentou que algumas instituições já estão se adaptando. Bancos como BNY Mellon e BBVA estão explorando serviços de custódia e consultoria.
No entanto, Burnett acredita que essas instituições ainda dependem de sistemas e infraestrutura financeiras tradicionais que não são projetados para ativos digitais como o Bitcoin. Portanto, sem uma integração mais profunda no ecossistema nativo do Bitcoin, essas instituições enfrentarão desafios em apoiar totalmente as empresas que usam o Bitcoin como parte central de sua estratégia financeira.
Assim, os bancos precisariam adotar sistemas mais avançados e específicos para o Bitcoin que operem dentro da estrutura da moeda digital descentralizada.
“A divisão está se tornando mais clara: instituições que tratam o Bitcoin como infraestrutura central vs. aquelas que hesitam. As que se movem cedo estarão melhor posicionadas para apoiar clientes que operam em um mundo onde os ativos se liquida globalmente, de forma transparente e sem intermediários de confiança,” comentou Burnett.
Como as Empresas Podem Navegar pelos Riscos das Reservas de Bitcoin
Vale ressaltar que a estratégia de reserva de Bitcoin não está sem desafios. A Sygnum recentemente alertou que as empresas enfrentam riscos de insolvência e podem também contribuir para a desestabilização do mercado.
Burnett reconheceu essas preocupações. Ele atribuiu os riscos à má execução em vez de ao Bitcoin.
“Se você está usando capital de curto prazo, não tem acesso à liquidez e nenhum processo interno para lidar com a volatilidade do mercado, essa é uma configuração frágil. Não é que o Bitcoin cause o risco; é que algumas empresas pulam a estrutura que normalmente aplicariam a qualquer outro ativo volátil,” mencionou ele à BeInCrypto.
De acordo com Burnett, a solução reside em estratégias disciplinadas. Empresas que utilizam capital de longo prazo, estabelecem políticas claras e evitam alavancagem podem tratar o Bitcoin como uma reserva estável em vez de uma aposta especulativa.
Uma infraestrutura sólida—como custódia multi-institucional, acesso a crédito e controles internos fortes—é crítica para garantir que o Bitcoin se encaixe perfeitamente em uma estratégia de tesouraria mais ampla.