Da AI Week vem uma provocação que pode mudar a forma como pensamos sobre inteligência artificial: se você não possui a infraestrutura, você está apenas emprestando seu cérebro a outra pessoa.

A nova fronteira da IA não é (apenas) tecnológica, mas filosófica

Durante um discurso na AI Week, um palestrante entregou uma mensagem que ecoa como um sino de alarme na paisagem tecnológica:
“Não sua API, não sua inteligência.”

Uma frase simples, mas cheia de significado. Uma analogia direta com o mundo das criptomoedas - “Não suas chaves, não suas moedas” - que traz uma nova conscientização:

Se a inteligência artificial que você usa depende de uma API externa, não é realmente sua inteligência.
Você está apenas delegando poder cognitivo a outra pessoa.

Hoje usamos IA centralizada. E não percebemos isso

Todos os dias milhões de pessoas usam ferramentas como ChatGPT, Google Translate, Copilot e similares.
Mas poucos se perguntam: “Onde meus dados acabam?” ou “Quem realmente controla essa inteligência?”

Por trás da aparente conveniência, existe um sistema centralizado que:

  • Coleta seus dados

  • Decide o que você pode fazer e o que não pode

  • Pode ser desativado a qualquer momento

É uma IA “como serviço”, e isso significa uma coisa: você não tem controle sobre ela.

Soberania da IA: o desafio dos próximos 10 anos

Assim como no Bitcoin, a chave é a soberania.

O palestrante apresentou um projeto revolucionário: QBack, uma infraestrutura descentralizada projetada para construir agentes de IA privados, locais e interoperáveis, capazes de operar:

  • Sem conexão com a internet

  • Sem chave de API

  • Em qualquer dispositivo, até mesmo um smartphone de 30€

O sonho? Criar uma plataforma de IA peer-to-peer onde cada usuário possui, treina e utiliza sua própria inteligência artificial, sem depender de nenhuma empresa.

Do BitTorrent ao blockchain: tecnologias descentralizadas a serviço da IA

Para construir essa visão, a equipe está usando tecnologias já conhecidas e testadas:

  • BitTorrent, para comunicação distribuída sem servidor

  • Blockchain, para adicionar criptografia avançada e privacidade por design

  • Código aberto, para garantir transparência, auditabilidade e acesso equitativo

Após sete anos de trabalho, o primeiro SDK (kit de desenvolvimento de software) será lançado em setembro, com centenas de módulos no GitHub. Cada desenvolvedor poderá contribuir, testar, melhorar.

Um cenário perturbador: 1 bilhão de robôs conectados a um único data center

O palestrante fez uma pergunta perturbadora, mas realista:

“Como nos sentiríamos se em 10 anos houvesse 1 bilhão de robôs inteligentes, todos conectados a um único data center gerenciado por uma única empresa?”

Um pesadelo distópico? Nem tanto. Com a direção atual da IA, é um cenário mais próximo do que pensamos.

Exemplos concretos: Cuba Translate e Cuba Health

Para demonstrar que a descentralização é possível já hoje, dois protótipos funcionais foram apresentados:

  1. Cuba Translate: um aplicativo de tradução que funciona completamente offline, em todos os dispositivos, sem enviar dados para nenhum servidor.

  2. Cuba Health: um sistema de rastreamento de saúde semelhante ao Apple Health, mas completamente privado, que processa dados como batimentos cardíacos, sono e hábitosdiretamente no dispositivo.

Essas ferramentas demonstram que a privacidade não é um obstáculo para a inovação, mas uma escolha tecnológica.

Se você não possui sua IA, você é apenas o usuário

O futuro da inteligência artificial não é apenas jogado na frente de hardware ou algoritmo.
É jogado em termos de controle, governança e propriedade.

Assim como o Bitcoin libertou o dinheiro dos monopólios bancários, a IA descentralizada pode nos libertar da dependência das grandes tecnologias.
Mas para fazer isso, é necessário conscientização. É necessária uma comunidade. Uma nova filosofia digital é necessária.

Não sua API, não sua inteligência.
É hora de retomar nossa mente digital.