Na América Latina, o Pix é considerado o caso de sucesso na digitalização da economia. É o que aponta um levantamento da Moody’s Rating divulgado nesta terça-feira, 3. No entanto, os bancos foram os principais afetados pela digitalização da economia e das transações monetárias.
Em 2024, a média de transações via Pix correspondeu a 359 por pessoa. Comparado a outros países da região, o país desponta como líder na popularização dos meios de pagamento digitais. A média nos demais países foi de 136 transações por pessoa.
No México, por exemplo, o dinheiro físico circulando equivalia a 8,5% do PIB em 2023. Por outro lado, Chile e Brasil estão entre os países em que o dinheiro físico representa as menores proporções do PIB: 3,7% e 2,7%, respectivamente.
Na Colômbia, o Banco de la República se inspirou no Pix para criar o sistema Bre-B, previsto para o segundo semestre de 2025. Atualmente, mais de 70% das transações no país ainda são feitas em dinheiro. No entanto, diferentemente do Pix, a Colômbia ainda discute se os usuários deverão pagar tarifas por transação.
O que esperar da economia digitalizada?
A Moody’s aponta que o Pix é 2,5 vezes maior que o cartão de débito como meio de pagamento entre pessoas físicas e empresas. Ainda assim, apresenta volume semelhante ao dos cartões de crédito.
De acordo com Daniel Girola, analista sênior da Moody’s Rating, a redução dos pagamentos em dinheiro já vinha ocorrendo desde que a população passou a ter mais acesso aos cartões de crédito. Ele afirma que os incentivos à concorrência foram relevantes para a redução dos custos das maquininhas para os comércios, o que impulsionou o uso de cartões.
O relatório também cita a implementação da função NFC e do parcelamento via Pix como estímulos à substituição dos cartões. Uma pesquisa do Banco Central revelou que 30% dos usuários de cartão de crédito não utilizavam o Pix devido à ausência da tecnologia de pagamento por aproximação.
Já é a vez das criptomoedas?
Para Girola, ainda não se observa uma adoção significativa de criptomoedas como meio de pagamento no Brasil. “O maior desafio é a aceitação pelos estabelecimentos, ao mesmo tempo que ainda há incertezas regulatórias, pois boa parte da regulação está pendente”, avalia.
De fato, o Congresso aprovou o marco legal dos ativos digitais em 2022, mas o Banco Central ainda trabalha na regulamentação. Na agenda pública, a instituição realiza consultas e avalia propostas. O BC pretende divulgar as regras após concluir esse processo de discussão com os participantes do mercado.
O executivo ainda destaca El Salvador como o país mais avançado em termos de regulação para criptomoedas. O país adotou o Bitcoin como moeda de curso legal em 2021, mas, em 2025, revogou a obrigatoriedade de sua aceitação como forma de pagamento, restringindo o uso a transações privadas. Em 2023, o país criou a Comissão Nacional de Ativos Digitais para regular especificamente a emissão, negociação e custódia desses ativos.
Como os bancos entraram na economia digital?
Os bancos registraram uma queda de 8% na receita bruta entre 2018 e 2024. No mesmo período, a receita com tarifas de conta corrente dos cinco maiores bancos no Brasil caiu de 7,2% para 4,6%. Para Girola, essa perda de receita se deve ao desuso das transferências via TED e DOC, além da substituição dos pagamentos com cartão de débito.
Essas mudanças não se limitam aos números financeiros — há impacto direto na sociedade. Com a queda da receita, muitas agências bancárias foram fechadas, com redução de 13% entre 2020 e 2024.
Outro dado que reforça a transição digital no Brasil é a queda na circulação de dinheiro físico. Em 2018, cédulas e moedas representavam 60% da base monetária. Em 2024, esse percentual caiu para 24%.
“A concorrência, especialmente de novos entrantes, também foi um fator relevante de pressão. No entanto, é importante observar os pontos positivos para os bancos com a digitalização”, explica Girola.
Entre os benefícios, destacam-se a conquista de novos públicos, o aumento da oferta de crédito, a redução de custos operacionais e os ganhos em eficiência.
Além disso, enquanto os saques bancários caíram 24%, os depósitos aumentaram 106% entre 2019 e 2024, o que pode indicar que as pessoas estão mais dispostas a fazer o dinheiro render em carteiras digitais, em vez de mantê-lo fisicamente.
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