Em uma recente entrevista ao Financial Times, Gita Gopinath, Diretora Gerente Adjunta do Fundo Monetário Internacional, soou o alarme sobre as stablecoins. Sua mensagem foi clara: dólares digitais, especialmente na forma de stablecoins, podem criar dores de cabeça reais para os bancos centrais em mercados emergentes. Mas isso é uma preocupação justificada—ou uma reação exagerada à inovação?

Vamos desvendar o que realmente está acontecendo.

Um Novo Desafio para a Política Monetária

Gopinath fez uma comparação interessante entre a incerteza macroeconômica de hoje e os primeiros dias da pandemia de COVID-19. Naquela época, os bancos centrais de todo o mundo se moveram em sincronia—reduzindo taxas e injetando liquidez para amortecer o impacto. Mas os desafios de hoje são mais fragmentados, em parte devido a políticas comerciais imprevisíveis (olá, Trump 2.0?) e agora…stablecoins.

Ela destacou que em muitas economias emergentes, as criptomoedas—especialmente stablecoins—têm visto uma adoção acelerada. Isso pode parecer algo bom à primeira vista. Mas, do ponto de vista de um formulador de políticas, levanta bandeiras vermelhas. Por quê? Porque quando as pessoas começam a usar stablecoins (atreladas ao dólar dos EUA ou outras moedas principais) em vez de sua moeda local, isso enfraquece a capacidade do banco central de gerenciar a inflação, controlar as taxas de juros ou direcionar a economia.

Em essência, se menos pessoas possuem ou usam a moeda local, as ferramentas do banco central se tornam menos eficazes.

Os Dados Não Contam uma História de Crise Total

Ainda assim, antes de declararmos um apocalipse financeiro, vale a pena ampliar a visão e olhar os números.

Sim, o mercado de stablecoins está em alta. A USD Coin da Circle acaba de se tornar pública. O total da oferta de stablecoins está se aproximando de $250 bilhões. As transações envolvendo stablecoins ultrapassaram $2 trilhões apenas no último mês. Isso é um grande salto desde meados de 2020, quando era apenas $52 bilhões.

Mas aqui está a questão: a maior parte dessa atividade não está acontecendo em mercados emergentes.

Apenas cinco países—Índia, Brasil, Tailândia, Emirados Árabes Unidos e Indonésia—estão entre os 20 principais em termos de volume de stablecoin. Juntos, eles representam menos de 6% dos fluxos globais de stablecoins. Portanto, enquanto o uso está crescendo, isso dificilmente está substituindo os sistemas financeiros locais da noite para o dia.

Além disso, as pessoas nessas economias sempre procuraram maneiras de se proteger contra a instabilidade da moeda—através de ouro, dólares dos EUA ou imóveis. As stablecoins podem ser apenas a próxima evolução dessa estratégia, não uma nova mudança radical.

Verificação da Realidade no Terreno

Vozes da indústria que trabalham diretamente nesses mercados estão pedindo uma visão mais fundamentada. Elizabeth Rossiello, da AZA Finance, diz que ativos digitais não estão levando a um aumento na fuga de capitais—eles estão apenas substituindo alternativas antiquadas. Nenhuma saída repentina das moedas locais. Nenhuma sentença de morte para os bancos domésticos.

Chris Maurice, CEO da Yellow Card, pinta um quadro semelhante da África. Enquanto a Nigéria é um centro para o uso de stablecoins, ainda é raro ver alguém realmente gastá-las em itens do dia a dia. E quando se trata de uma interrupção financeira mais ampla? Maurice diz que os verdadeiros perdedores não são os bancos centrais—são gigantes financeiros legados como JPMorgan, Citibank e SWIFT.

Seu ponto é simples: as stablecoins estão ajudando instituições locais ao lhes oferecer uma maneira mais suave de acessar dólares e se conectar ao comércio global, sem precisar depender de sistemas bancários internacionais antiquados que não foram projetados para mercados emergentes em primeiro lugar.

A Verdadeira Ameaça (e Oportunidade)

Então, os bancos centrais de mercados emergentes devem se preocupar? Talvez. Mas não pelos motivos que você pensa.

O verdadeiro risco não é que as stablecoins substituirão instantaneamente as moedas locais—é que os formuladores de políticas podem perder a oportunidade de integrá-las e regulá-las de uma maneira que fortaleça seus sistemas financeiros. Neste momento, as stablecoins estão oferecendo uma alternativa mais eficiente, baseada em dólares, para sistemas bancários instáveis em muitas partes do mundo. Isso é um chamado para a ação—não uma sentença de morte.

O desafio não é se essa tecnologia está chegando. É quão rapidamente os governos e as instituições financeiras podem se adaptar para garantir que permaneçam relevantes no processo.

Considerações Finais

As stablecoins representam uma mudança nas finanças globais—mas não são o bicho-papão. Em vez de resistir a elas, os mercados emergentes podem se sair melhor abraçando a tecnologia, implementando regulamentações inteligentes e usando-a para ultrapassar as finanças tradicionais.

Afinal, a maior ameaça aos bancos centrais pode não ser as stablecoins—pode ser perder o momento de evoluir.

O que você acha—as stablecoins estão desestabilizando ou aprimorando o futuro das finanças em mercados emergentes? Vamos conversar.



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