O boom cripto da América Latina é real, e no Brasil, é especialmente forte, mas de acordo com um novo relatório do Q1 2025 da Outset PR, a paisagem da mídia cripto da região está colapsando justo quando a adoção aumenta.

De meados de 2023 até meados de 2024, esta zona voltada para cripto viu quase $415 bilhões em influxos cripto, representando um aumento de 42,5% ano a ano. A esse ritmo, a LATAM ocupa o segundo lugar como o mercado que mais cresce no mundo.

Dentro da América Latina, quatro países estão entre os 20 melhores do mundo em adoção de cripto, com o Brasil notavelmente em nono lugar. O país combina forte engajamento dos usuários com um ambiente regulatório que continua amplamente construtivo. Embora muitas vezes ofuscado por El Salvador - a primeira nação do mundo a adotar o Bitcoin como moeda legal - o Brasil se distingue por uma abordagem mais medida e orientada a infraestrutura. Seu foco na colaboração com fintechs, prontidão institucional e progresso regulatório o posiciona como um líder de longo prazo na integração cripto.

Recentemente, os legisladores introduziram um projeto de lei (PL 957/2025) para permitir que até 50% dos salários sejam pagos em Bitcoin, com o restante na moeda nativa do país, os reais. Isso tornaria o Brasil um dos primeiros países a acomodar oficialmente a folha de pagamento em cripto. O banco central sinalizou uma postura mais aberta em relação ao uso de stablecoins, reconsiderando uma proibição anterior que limita as transferências de stablecoins para carteiras de auto-custódia.

O Mercado Bitcoin, a maior exchange de cripto do Brasil, firmou parcerias importantes: é o primeiro cliente brasileiro da Ripple para uma solução de pagamento baseada em blockchain, e acabou de anunciar um acordo para tokenizar $40 milhões de ativos brasileiros na Plume Network.

Até mesmo os bancos tradicionais estão se atualizando. O BTG Pactual do Brasil lançou ferramentas de investimento em blockchain, e um programa piloto de real digital/CBDC fez com que bancos como o Itaú entrassem nos serviços de cripto.

Mas com todo esse momentum, por que o Brasil, junto com grande parte da América Latina, ainda carece de cobertura midiática consistente e aprofundada dessas mudanças? Como recentemente destacado pela Outset PR, a paisagem da mídia cripto da região está se afinando no momento em que é mais necessário.

Relatório da Outset PR: A mídia não está acompanhando o ritmo

O ecossistema de mídia que comunica esses desenvolvimentos está encolhendo, apesar de uma economia cripto próspera. O relatório de auditoria de mídia do Q1 2025 da Outset PR revela uma desconexão aguda: apesar de sinais claros de forte interesse dos usuários, os veículos de notícias cripto da América Latina não estão se saindo bem.

No primeiro trimestre, apenas um punhado de sites cripto conseguiu crescimento, enquanto 73% da mídia cripto ativa perdeu tráfego.

O rali do Bitcoin em janeiro trouxe um impulso de curto prazo na cobertura cripto em veículos de finanças mainstream, mas sites de notícias cripto de nicho e blogs sofreram à medida que o momentum do mercado mudou.

Até fevereiro, apenas 12 veículos cripto viram crescimento de tráfego, enquanto a maioria perdeu visibilidade devido a quedas de mercado e mudanças algorítmicas precoces. A atualização central de março do Google então reorganizou os rankings ainda mais. Apenas cerca da metade dos 55 veículos monitorados recuperaram tráfego até março. A Outset PR acompanhou uma recuperação acentuada e desigual, com muitos veículos falhando em recuperar os níveis de tráfego de janeiro.

Seis sites dominam um ecossistema encolhido

Em termos práticos, a Outset PR destaca que a mídia cripto da América Latina é altamente concentrada e exclusiva. Existem apenas seis editores principais que representaram cerca de 69% de todas as visitas a veículos focados em cripto no Q1.

Apesar de uma participação de mercado tão grande concentrada em um pequeno número de jogadores, nenhum desses sites de nicho teve uma média superior a 1 milhão de visitas mensais. O restante do campo é fragmentado: muitos veículos cripto na região lutam para alcançar até 10.000 visitas por mês, com o menor nível capturando apenas 8% do tráfego total.

Vários sites anteriormente reconhecidos, como bitcoinmexico.net e latamblockchain.com, estão agora inativos, dormentes ou amplamente irrelevantes, de acordo com o relatório.

A mídia mainstream ofusca a imprensa nativa cripto

A adoção está aumentando, mas a descobribilidade não. No Brasil, a maioria dos usuários da web aprende sobre cripto a partir de grandes marcas de mídia geral (Ámbito Financiero, InfoMoney, iProfesional, El Diário, Valor Econômico, etc.), em vez de veículos puramente cripto. Esses veículos legados cobrem cripto ocasionalmente e geralmente direcionam conteúdo para o hype do mercado.

O foco editorial deles pode aumentar as impressões de PR durante os períodos de alta, mas não oferecem garantia de leitores cripto engajados ou visibilidade perene.

Os dados da Outset PR sugerem que contar com pacotes de imprensa amplos de "LATAM" sem contexto pode ser contraproducente. Os orçamentos são gastos em cliques que desaparecem uma vez que o algoritmo do Google muda ou o interesse diminui.

A estratégia deve evoluir com o mercado

Para marcas cripto no Brasil e na América Latina, a lição é clara: não equate a adoção com o alcance da mídia. As campanhas devem direcionar a mistura certa de veículos - os poucos sites de nicho que realmente têm audiências conhecedoras de cripto, além de portais mainstream em momentos críticos, como em torno de grandes notícias regulatórias ou de preços.

E eles devem atualizar continuamente seu manual: a Outset PR enfatiza o uso de tráfego real e análises de busca - não apenas recortes ou rankings antigos.

Em resumo, enquanto a narrativa cripto do Brasil é vibrante no terreno, as equipes de PR precisam de estratégias de mídia baseadas em dados para garantir que a mensagem não se perca em um cenário lotado e volátil.

O próximo desafio da região para a indústria não é construir um ecossistema cripto viável, mas ser visto.